#2 sobre a escrita criativa
Existe uma questão milenar, passada de geração em geração entre aqueles que gostam de criar com palavras, uma questão devastadora e que para muitos pode ter um oceano de respostas divergentes.
Essa tal questão é bem mais evidente hoje no no nosso dia a dia banhado em internet, pois com o advento da mesma tornou-se mais fácil ou criar espaços seguros para se trazer a tona essa pergunta ou chegar até criativos de escrita de forma anônima para lhes questionar sobre.
Inúmeras vezes o assunto vem a tona em rodas de conversa com escritores, geralmente como aquela pergunta quebra gelo que todo entrevistador joga para criar uma conexão entre escritor-público e que claro, todo autor detesta responder pois já o fez no mínimo dez vezes.
A pergunta, é claro, não poderia ser outra coisa a não ser "como começar a escrever?" ou "qual seu processo de escrita?"
E qual a resposta? Bem, depende a quem você pergunta, mas de modo geral é: escreva ! Alguns escritores vão além e falam sobre todo seu processo de se mudar para o interior, ou de se reconectar com a natureza ou observar a vida, todas aquelas respostas já manjadas e esperadas sobre como a criatividade nasce num vácuo de calmaria mental longe de tudo que você já conheceu na vida; isso muitas vezes é pura balela, eles sabem, a gente sabe; geralmente quem responde assim tem as série de livro best sellers mais encaixotadas que você verá na vida.
A verdade é que a escrita apenas /acontece/, e um bom começo para escrever ‘bem’ é sempre ler, ler muito, devorar livros, revistas, quadrinhos, explorar as inúmeras possibilidades da literatura e então fazer da mesma sua serva com a caneta.
Eu nunca soube direito como escrever, apenas o fiz, sempre que tenho algo grudado igual chiclete no cérebro pego a caneta ou abro o aplicativo de notas e escrevo até a coceirinha passar, vou digitando ou desenhando como se estivesse a vomitar verborragias e verborragias. Muitas dessas vezes os escritos acabam não muito bons, mas são um começo: um início de alguma ideia, uma utilização frasal interessante que pode ser reaproveitada ou uma frase que se torna uma coisa a mais em outro lugar; escrever nunca é uma perda, praticar e experimentar o que funciona ou não é uma delícia.
Agora, apesar de ser uma leiga amadora em assunto de responder /como/ se escreve, conheço alguns caras que martelaram algumas palavrinhas de ajuda na minha cabeça que TALVEZ também possam fazer algo por você !
A primeira dica de escrita criativa que realmente pegou pra mim na vida não veio de um autor, mas sim de um músico. Lembro-me de alguns anos atrás ter assistido uma entrevista do David Bowie onde ele falava sobre seu processo de composição, lá ele comentou que apenas jogava numa folha tudo que vinha a sua cabeça, sem muita ordem, propriamente uma verborragia, e depois ia juntando os pedacinhos que se encaixavam; de início essa pode não ser uma coisa muito útil, mas é excelente para construir tópicos a serem abordados ou encaixar pedaços em outros pedaços, ou até mesmo rimas em um poema que você não sabia muito bem como terminar. Pratique a verborragia você também !
A segunda pessoa que me marcou na questão foi Kurt Vonnegut Jr, celebre autor de ficção científica que também lecionou sobre escrita criativa durante alguns anos. Ele falou o seguinte em uma de suas aulas: você precisa utilizar da sua escrita par mostrar ao leitor a razão pela qual ele deve se importar com o assunto abordado. Está escrevendo sobre uma vaca abduzida? Pois trate de contar sobre a profunda amizade da vaquinha com seu fazendeiro, elabore suas paixões e medos, faça o leitor sentir ! Mesmo - e talvez ainda mais - que o assunto não seja tão agradável, sempre narre com paixão, um escritor precisa ser um executor passional. Ler sobre isso resoou profundamente comigo, a ponto de nunca mais escrever notas de forma casual.
Além das dicas mais diretas, moram no meu - e no seu - subconsciente a escrita de quem se admira profundamente. Me pego trabalhando bastante com o fluxo de consciência graças a Clarice Lispector, como também tendo a tratar do humor da vida como faziam Ray Bradbury e o já citado Kurt Vonnegut. É essencial se dar um norte, saber do que se gosta e de como se gosta de tratar as questões da vida ou da fantasia. Eu nunca fui muito da alta fantasia, por exemplo, portanto não saberia nem por onde começar com toda a construção de um mundo medieval ou de fadas, e vivo bem com isso, pois não é meu nicho de leitura e muito menos de escrita. Talvez um dia eu experimente com isso? Claro! mas não é algo que eu Lavinia aos vinte e quatro anos no exato dia de vinte e três do sete de dois mil e vinte quatro pretendo abordar (e tá tudo bem!).
E no fim é isso, para mim escrever requer duas coisas: pensar e amar, não necessariamente amar o seu objeto mas sim o que você faz, a ponto de trazer o leitor até seu lado e fazer com que ele se importe também.
E porquê eu estou a indagar sobre, talvez você se pergunte.
Tenho tido um excelente fluxo de escrita nas últimas semanas, redigindo textos analíticos, trabalhando num conto, criando a newsletter...basicamente redescobri minha paixão por escrever, e nesse meio tempo também decidi me aventurar por águas desconhecidas e me inscrevi num curso de escrita criativa de outra autora, o fiz para poder receber de ante mão respostas sobre o processo de outras pessoas do meio, essas que podem não me abarcar de forma direta mas talvez tragam uma luz para questões que eu mesma tenho com meus escritos. De qualquer forma, escutar e observar outros escritores é sempre uma boa pedida em minha experiência.
Como escrever talvez seja uma eterna questão, mas não deixe que ela te assombre a ponto de nunca de fato fazer algo sobre o autor que mora em você, leia leia leia esreva escreva escreva, a caneta é sua para fazer o que bem entender, meu caro (com moderação).